sábado, 3 de novembro de 2007

VILA DE SÃO MARTINHO DO PORTO



VILA DE SÃO MARTINHO DO PORTO
(Sua História)

PARTE III

O FORAL

Eis a tradução do original, conforme se encontra escrito em língua latina:

“Em nome da Santa e Indivisível Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, Amén”

Porque os dia dos homens são breves e a memória da sua fama passa depressa, se os gestos não ficarem escritos, facilmente passam da memória e o esquecimento impede que as notícias cheguem aos vindouros:

Por isso, nós Frei Estevão, Abade, e o Convento de Alcobaça , queremos fazer conhecer a todos que vivem, o presente documento que, de comum acordo e com o nosso beneplácito, damos e concedemos a nossa herdade que temos no nosso couto no lugar chamado de São Martinho, assim dividido pela foz de Salir por uma parte,e , da outra parte. Começa no Bico da Longara e vem pelo Vale e se estende até ao brejo, a DOMINGOS GONÇALVES, PEDRO MOURO, PEDRO NAZA, DOMINGOS FARROTO, JULIÃO JULIANES, JOÃO HISGUEIRO, e todos os outros, até ao número de 60, que esse lugar querem povoar e nele morar, e aos seus sucessores, que o possuam e herdem perpétuamente, com a condição que eles e todos os seus sucessores nos paguem e aos nossos sucessores, a quinta parte do vinho, trigo cevada, trigo candeal, milho, azeite, legumes e todos os outros frutos que dela colherem. Dos frutos, das hortas que cultivarem, ou possuírem, se acontecer que desses frutos alguma coisa venderem, ou derem, deem-nos a quinta parte.

Igualmente dos pomos que venderem, pagar-nos-ão, e aos nossos sucessores, a quinta parte.

Os pescadores tenham para a tarefa da sua pesca a sua rede, e se suceder que vendam ou deem o peixe, deem-nos e aos nossos sucessores, a quinta parte.

Igualmente de todo o pescado que tiverem, deem-nos e aos nossos sucessores, a décima parte, excepto moreia.

Os lavradores, de todos os frutos que tiverem, deem-nos e aos nossos sucessores, a quinta parte e anualmente no dia de São João Baptista, um alqueire e uma galinha por fogaça.

Mandamos também e lhes concedemos o relego de Santarém, todos os outros foros sejam como uso e o foro da Pederneira, até ao terceiro ano tomem os mesmos posse da sua herdade, do terreno rompido deem-nos a quinta parte, e do não cultivado no primeiro ano em que amanhado nada nos deem; aos quatro anos, e daí por diante, tenham relego de Santarém.

Não lhes é permitido emprazar, vender ou dar a qualquer clérigo, ou religioso, ou a militar secular, ou a qualquer outro, nem ainda de qualquer outro alienar ou constituir algum sucessor ou transferir para outro o domínio pelo qual os supracitados rendimentos possam ser diminuídos ou de qualquer forma prejudicados.

Para dar maior força ao facto, e não poder ser posteriormente renovado, fazemos duas cartas de um e o mesmo teor, escritas em vulgar, das quais uma retemos, e outra ficará para os mesmos povoadores, e fazêmo-las autenticar com a garantia do nosso selo.

Nenhum de todos os homens tem o direito de infrigir esta nossa carta de doação e concessão, ou temerária ousadia de a contrariar.

Se porém algum tiver a presunção de isso tentar, saiba que ficará incurso na maldição de (Jesus) Deus Omnipotente e dos seus Santos.

Feita em Alcobaça, no mês de Junho Era de 1257

Estavam presentes:

D. Estevão Abade;
D. Pelágio Pedro;
D Pedro, notário;
D. Lourenço, testemunhas;
D. Mendo Pedro;
Martinho Pedro, cantor;
Testemunhas
Frei Bento;
Frei João Pelágio, Domingos Pedro Cellarário, escreveu.

(Continua)
José Gonçalves

Da minha amiga Sophiamar recebi esta ajuda preciosa sobre os forais que achei interessante acrescentar ao texto inicial. O meu obrigado à sophiamar pela colaboração.


O rei D.Manuel I e D.João II, cunhados e primos, foram os dois mais importantes reis da 2ª dinastia.Os antigos forais apresentavam muitas lacunas, segundo pensavam estes reis, no que ao número de obrigações dizia respeito. Muitos eram os privilégios neles contidos. À medida que se foi procedendo à centralização do poder novas leis foram feitas e outras revistas. Os forais velhos foram sofrendo reformas e isso aconteceu aos nossos forais de Faro e de S.Martinho do Porto.

A AMIZADE VAI CRESCENDO


Da minha amiga Sophiamar, trouxe comigo mais este selo de AMIZADE, como prova de grande carinho. A todos os que me visitam, também o ofereço, do fundo do coração. Esta onda de Amizade vai crescendo a olhos vistos. Bem hajam todos.

VILA DE SÃO MARTINHO DO PORTO


VILA DE SÃO MARTINHO DO PORTO
(Sua História)

PARTE II

UM VOTO A CRISTO

Diz A história que, no ano do Senhor de 1147, aos 13 de Maio, era quinta-feira, indo El-REI d. Afonso Henriques para a conquista de Santarém aos Mouros, passou pela Serra de Albardos e aí encontrou São Bernardo orando. Abraçando o Santo, El-Rei prometeu, que se ganha-se a batalha, daria tudo o que daí se avistasse à ordem de Cister.

Os portugueses tomaram Santarém e o Rei cumpriu a palavra.

Em 1154 assinou a solene doação em que concedia a São Bernardo um vasto território que, estendendo-se de Óbidos a Leiria, ia na outra direcção, da Serra de Minde ao mar.

Nesta altura foi fundado o Real Mosteiro de Alcobaça.

Neste amplo domínio nada havia que demonstrasse o esforço do homem, nem vilas, nem campos cultivados, nem selvas, nem matos, o aspecto que então se deparava era bem diferente do actual.

O mar invadia tudo, e, os campos onde agora existem culturas e pastos, pomares e vinhas, outrora somente existiam marinha de sal.

Mas a pouco e pouco tudo se foi civilizando.

Os povoados constituíram-se e em breve receberam cartas de povoações.

Mas foi só passados alguns anos que se deu o acontecimento que viria a marcar o primeiro documento importante para São Martinho do Porto.

No reinado de El-Rei D. Afonso III, no ano de 1257, Frei Estevão Martins, 12º Abade do Convento de Alcobaça, concedeu o primeiro foral a São Martinho do Porto.

(continua)

José Gonçalves

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

FEITO COM CORAÇÃO

Da minha amiga Mara Carvalho, recebi este selo destaque, que muito me honrou e sensibilizou.
Quero mesmo aproveitar para agradecer a todos quantos me têm vindo a premiar com estas manifestações de amizade.
Sei que não mereço tanto, mas fico grato a todos, meus amigos.
Um forte abração.
José Gonçalves

VILA DE SÃO MARTINHO DO PORTO


VILA DE SÃO MARTINHO DO PORTO
(Sua História)

Dou hoje início a uma série de postagens sobre a História da terra onde vivo, São Martinho do Porto. Vou dividi-las em oito postagens pois a história é algo comprida.

O texto que se segue, baseia-se em documentos que encontrei há uns anos quando pesquisei sobre as origens desta localidade. Por ser um aglomerado de folhas soltas, tipo A4, e não estar assinado, não posso garantir que os factos relatados sejam seguros a 100%. No entanto, nas inúmeras consultas que fiz a vários outros documentos, com o mesmo fim, tudo me leva a considerar que os que passo a transcrever são pouco falíveis.

Aqui fica pois.

PARTE I

O PASSADO E O PRESENTE

O ANTIGO PORTO “EBUROBRITIUM”

Segundo alguns escritores e citando um, Manuel Vieira Natividade, o mar em tempos antigos, entrando pela foz do actual Rio Alcoa (Nazaré), formava um vasto estuário, sendo a entrada defendida por uma ilha em que se erguia uma fortaleza.

O mar entrava no estreito, hoje chamado, Ponte da Barca, estendia-se por uma enorme bacia até Alfeizerão, prolongava-se ao longo da Serra da Cela, Bárrio, Vestiaria, até Fervença, onde, ainda em 1200, barcos vindos de Lisboa, carregavam madeiras e descarregavam géneros para os frades de Alcobaça, segundo refere um velho manuscrito.

Daí passava um pouco a poente da actual Maiorga, Valado e junto a este lugar formava uma curva, as Águas Belas, voltando para o monte de São Bartolomeu e prolongando-se com ele até ao estreito por onde entrava.

Para o sul também se dava o prolongamento, o qual se devia estender por Caldas da Rainha até à Lagoa de Óbidos, indo alojar-se na Várzea da Rainha, tendo saída para o mar pela Foz do Arelho.

Resultava desta disposição, que o terreno constituído pela Serra da Pescaria e Serra do Bouro, formavam uma ilha, que mais tarde, pela abertura da passagem entre actuais povoações de São Martinho do Porto e Salir do Porto (Barra da Baía de S. Martinho), se dividiu em duas.

As areias e detritos que se foram acumulando nos remansos, juntamente às que o vento transportava, causaram assoreamento separando em duas bacias o vasto estuário, estando hoje reduzido à Lagoa de Óbidos e Concha de São Martinho do Porto.

Convertido o estuário em campos, que desde a foz do rio Alcoa, se estendia até Fervença e Alfeizerão, compensando assim o mar no seu recuo, as terras onde correra, em toda a extensão da costa, na largura de, talvez 2 km, desde os tempos da ocupação Romana.

A abertura de vasto estuário foi devida a um grande abatimento da linha das montanhas, paralelamente ao mar, produzindo um vale tifónico que, descendo abaixo do nível do mar, deu lugar a que as águas o viessem ocupar em toda a sua extensão, aproximando-se do actual trajecto da linha férrea, desde as proximidades do Bombarral, até um pouco a norte do Valado de Frades.

As águas que saíam pela foz do rio Alcoa, quando se abriu o rasgão de São Martinho do Porto (Barra da Baía), passaram, tal como aconteceu na ponta sul, também a fazer remansos e as duas bacias do Alcoa e Alfeizerão separaram-se, estando hoje a do Alcoa transformada em campos de cultura e porto de abrigo e a de Alfeizerão reduzida à Baía de São Martinho do Porto.

(continua)
José Gonçalves



DEDICADO À MINHA FAMÍLIA E AOS AMIGOS



A todos que têm tido a paciência de me visitar por aqui. À minha família que me atura há muitos e muitos anos, sempre com a mesma ternura e amor. A todos aqueles que já partiram mas que lá onde estão, sei que são visitas constantes deste meu cantinho. A mim próprio que me reconheço como solidário e amigo leal. A todos um inicio de fim de semana excelente e em PAZ.
José Gonçalves

BOM FIM DE SEMANA E BOA DISPOSIÇÃO... OU TALVEZ NEM TANTO

Zombi de Halloween confundido com cadáver

Passageiros de comboio confundiram bêbado mascarado com um cadáver e alertaram as autoridades. Acreditavam que o homem tinha sido assassinado

Estava bêbado na noite de Halloween e envergava um fato de terror. Mas este alemão terá apreendido que máscaras demasiado realistas podem trazer problemas. Quando adormeceu no comboio de regresso a casa foi confundido com um cadáver.

Morto? Ou morto-vivo? Os passageiros do comboio pensaram que o homem, vestido de zombi, tinha sido assassinado e chamaram a polícia.

A polícia revelou que o rapaz de 24 anos de idade adormeceu, devido ao excesso de álcool, quando regressava de uma festa de Halloween.

Os passageiros acreditaram que a face e as mãos cobertas de sangue apontavam para um homicídio e chamaram a polícia, após terem tentado, sem sucesso, acordar o homem.

Os paramédicos quando chegaram ao local rapidamente perceberam que se tratava de um rapaz, em perfeita saúde, mas demasiado bêbado para acordar facilmente.

Quando despertou, a polícia pediu-lhe para retirar a máscara e a maquilhagem, e depois deixou-o seguir viagem.

Moral da história: Quando se anda mascarado, não se pode adormecer bêbado num comboio.




Mulher vê homem na televisão e fica sem marido

Um saudita deixou a mulher depois de esta ter visto um programa de televisão apresentado por um homem

Na Arábia Saudita, uma mulher que assiste a um programa de televisão apresentado por um homem não é digna de manter o casamento. Foi o que aconteceu na passada semana, segundo relata o jornal «Al-Shams».

O homem ficou revoltado ao saber que a esposa tinha assistido a um programa de televisão que era apresentado por um actor masculino.

O casamento acabou nesse momento: as rigorosas leis islâmicas dizem que é estritamente proibido que uma mulher casada fique sozinha com outro homem. Mesmo que esse homem esteja na televisão, e a vários quilómetros de distância, e mesmo que o programa seja sobre culinária... Isto porque na Arábia Saudita os homens podem divorciar-se sumariamente, sem levar o caso a tribunal.

Moral da história: Ainda há países sem moral.

Notícias do Portugal Diário

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

BAJA ACP REPSOL PORTALEGRE 500 - 2007

No passado mês de Outubro, nos dias 18/19/20/21 realizou-se mais uma Baja Todo-o-terreno por terras alentejanas. A prova já teve várias denominações, a deste ano foi intitulada Baja ACP Repsol Portalegre 500 – 2007, mas tem sempre a mesma qualidade e interesse para os amantes do desporto automóvel.

Há mais de 20 anos que Portugal utiliza as melhores e mais competitivas pistas alentejanas, para organizar a mais tradicional prova de TT da Península Ibérica. de T.T. A sua qualidade e competitividade está confirmada pelas inúmeras “estrelas” que nela já participaram.

Desde o seu início devo ter falhado dois ou três anos a ir até um troço do percurso para assistir ao vivo a esta prova de todo-o-terreno. Este ano foi um dos que falhei. Mas com encontrei um pequeno filme que mostra o local exacto onde costumo ir ver passar a prova, aqui o deixo.

É chamado o Ribeiro na zona das piscinas, na Comenda, freguesia do Gavião.

Pelas imagens, os amantes desta modalidade, facilmente se aperceberão do entusiasmo que é assistir ali ao desenrolar dos acontecimentos. É um dia bem passado, começando logo pela manhã cerca das 8h00m e regressando a casa lá pelas 18/19 horas depois da maioria dos concorrentes ter passado. Um espectáculo.

José Gonçalves

TERRAMOTO DE 1 DE NOVEMBRO DE 1755


Relembrando o dia 1 de Novembro de 1755, deixo-vos uma resenha de alguns textos que recolhi sobre o Terramoto de Lisboa.

Ás 9 horas e 40 minutos, um violento terramoto atinge Lisboa e outras localidades portuguesas, provocando entre 20 a 60 mil vítimas mortais, não havendo no entanto a confirmação destes números, dada a disparidade de noticias sobre o acontecimento. A terra tremeu três vezes, num total de 17 minutos.

O sismo teve o epicentro no mar, a oeste do estreito de Gibraltar, atingiu o grau 8,6 na escala de Richter e o abalo mais forte durou sete intermináveis minutos. Por ser Sábado, acorreram mais pessoas às preces. As igrejas tinham os devotos mais madrugadores. Só na igreja da Trindade estavam 400 pessoas. Se os abalos tivessem começado mais tarde, teria havido mais vítimas, pois os aristocratas e burgueses iam à missa das 11 horas.

Depois dos abalos, começaram as derrocadas. O Tejo recuou e depois as ondas alterosas tudo destruíram a montante do Terreiro do Paço e não só. Era o fim do mundo!

Os incêndios lavraram por grande parte da cidade durante intermináveis dias. Foram dias de terror. As igrejas do Chiado e os conventos ficaram destruídas. A capital do império viu-se em ruínas, já para não falar de outras zonas do país, como o Algarve, muitíssimo atingida pelo sismo e maremotos subsequentes.

Consta que desapareceram cinquenta e cinco palácios, mais de cinquenta conventos, a Biblioteca Real, vastíssima em livros e manuscritos e as livrarias (como sinónimo de bibliotecas) dos conventos de S. Francisco, Trindade e Boa Hora. As chamas reduziram a cinzas milhares de livros em cinco casas de mercadores de livros franceses, espanhóis e italianos, e em vinte e cinco – contadas por Frei Cláudio da Conceição – lojas e casas de livreiros. Salvou-se o precioso arquivo da Torre dos Tombo, devido aos cuidados do seu guarda-mor Manuel da Maia. Lisboa ficou prácticamente destruída.

Os efeitos do terramoto foram sentidos em Marrocos com a mesma violência com que foram sentidos em Portugal, tendo sido também sentidos muito mais longe: na Europa do norte (Finlândia, Escócia, Irlanda, Bélgica, Holanda), no norte de Itália, na Catalunha, no sul de França, na Suíça e até no Brasil.

No Algarve as ondas chegaram a atingir uma altura de 30 metros e também no norte de África. A norte de Lisboa, as intensidades sentidas atenuaram-se mais rapidamente. Em Coimbra, por exemplo, não se registaram danos sérios. Contudo na Corunha, algumas chaminés altas tombaram, embora a população não se tenha apercebido da vibração.

Principais instantes dos efeitos catastróficos do sismo (1 de Novembro de 1755):

9h40 (manhã) – Lisboa sentiu um terramoto de extrema violência. Em poucos minutos, a cidade foi revolvida: formaram-se fendas de várias dimensões nas ruas, o céu ficou escurecido pelos gases sulfúricos exalados pela terra e pela poeira, tornando a atmosfera irrespirável.

10h00 – coincidindo com a primeira réplica, as vagas de um tsunami gerado aquando do sismo das 9h40, chegavam a Lisboa. As águas do Tejo atingiram 15 metros de altura, galgaram as paredes do cais e avançaram pela Baixa de Lisboa mais de 500 metros, varrendo o Terreiro do Paço, as ruas e terrenos próximos das margens. Muitos dos sobreviventes das casas colapsadas não puderam escapar às ondas do maremoto.

16h00 – as águas subiram em Creston Ferry (Inglaterra), demorando cerca de 8 minutos para a água voltar ao seu normal e para os barcos voltarem a flutuar.

19h30 – a primeira onda do tsunami atinge Antígua, a 6000 km de Lisboa (costa americana). Aqui as variações do nível das águas sentiram-se durante 2 horas e meia, tendo a onda mais alta atinge cerca de 3.50m.

Lisboa já tinha sofrido muitos tremores de terra antes do sismo de 1755: oito durante o século XIV, cinco durante o século XVI, três no século XVII e dois no século XVIII.

Parte do texto é da autoria de Cátia Rosas, do Gabinete Técnico da Confagri

José Gonçalves

terça-feira, 30 de outubro de 2007

O BOSS


Durante os últimos anos, sempre que vou a Moledo, fico em casa de minha prima. Não é bem uma prima, é um pouco mais que isso. É como uma irmã. Ela e o marido. São dois “amigos do peito” que mesmo longe, estão presentes nas nossas vidas.

A casa deles é uma espécie de... refúgio para todos nós, tal a sintonia que sentimos sempre que nos reunimos à noite em redor da televisão. Sim porque hoje em dia, as reuniões familiares são em torno da televisão, sem diálogo, sem convívio, apenas televisão, já longe dos tempos em que era à volta da lareira que todos se juntavam. Outros tempos.

Ali em casa porém, mesmo não privilegiando a lareira, e dando ao sector feminino a prioridade para as telenovelas, vamos encontrando formas de conversar e conviver entre as cenas de cada capítulo.

É acolhedora a casa dos meus primos. É grande, o que nem sempre é sinónimo de acolhedor. Cá fora o jardim mistura-se com inúmeras árvores de fruto, religiosamente tratadas pelo pai da minha prima e beneficiando do óptimo clima que os favorece.

Ao canto do jardim... bem ao canto está o meu senão. Tudo na vida tem um senão. Um enorme e forte canil, protege um corpulento Rottweiler preto, de postura arrogante e ameaçadora.

Ao longo destes anos todos e desde que aquela personagem foi para lá viver, as minhas estadias têm sido sempre super controladas evitando encontros pouco amigáveis entre nós. O respeito tem sido de parte a parte e acho que o Boss, de seu nome, aprendeu depressa que não me tinha caído no goto. Os olhares e as expressões que me dedicava, também me sugeriam que esta "atracção fatal" era mútua.

Pois da última vez que lá estive quinze maravilhosos dias, o meu “amigo” Boss, modificou a sua atitude para comigo. Tornou-se acessível e menos agressivo, tendo mesmo chegado perto de mim, como que pedindo que o afagasse ou lhe dirigisse uma palavra de amizade ou um pedido de tréguas. O olhar tornou-se terrivelmente meigo e pensei com os meus botões que tinha ganho esta guerra fria entre nós. Não foram poucas as vezes que durante esses dias me vi a fazer festas no Boss, como se isso fosse afinal o que sempre tínhamos feito, desde que nos conhecemos.

Confesso que mesmo à distância, tinha uma certa afeição àquele corpulento exemplar canino, que fazia já parte da vida familiar dos meus primos, não obstante lhes ter chamado várias vezes a atenção para o facto de se constar que aquela raça de cães não era muito de fiar.

Foi neste clima de reconciliação entre nós que regressei a casa, elogiando para quem me queria ouvir, os dotes meigos do Boss e o olhar ternamente carregado e arrependido que me deitou durante a nossa estadia. E não pensem que esta reconciliação foi apenas entre mim e o Boss, não senhor. Também a minha mulher, salva em tempos por uma intervenção rápida do meu primo, fez as pazes com o Boss.

Anteontem meus amigos, perto das oito horas da noite, o telefone tocou. Era o meu primo. Pedia-me para conversar com a mulher e lhe dar algum alento. O Boss falecera, vitima de doença incurável, e ela precisava de mais algum conforto.

A notícia caiu como uma bomba. Para lá de toda a atribulada relação, tínhamos ganho uma afeição ao Boss, baseada no respeito mas também no hábito de o ver a guardar a casa dos meus primos. Quase sempre à solta pelo jardim.

Julgo mesmo que só ia para o canil quando nós lá estávamos. Talvez fosse essa a mágoa do Boss e a pouca vontade que tinha de nos ver por lá.

Após a notícia, estive seguramente uns bons dez a quinze minutos em silêncio. Não consegui articular palavra.

É que me lembrei da nossa reconciliação, da ternura e do afecto que o Boss nos quis oferecer, quem sabe adivinhando seria a última vez. O olhar meigo e terno que nos lançava, diz-me agora o coração, era tão só uma despedida, e os amigos não se despedem de costas voltadas.

Adeus Boss, parte em paz. Quem fica em sobressalto sou eu por não te ter entendido mais cedo.
Leva contigo o osso da amizade que afinal nos unia, porque quem sente assim só pode ser um amigo.

José Gonçalves


DESAFIO DA SOPHIAMAR

A Sophiamar lançou-me este desafio! Não o pude cumprir à risca mas cá vai então!

O Desafio foi:

1) Pegar num livro que tenhas à mão ... não vale procurar
2) Abri-lo na página 161,
3) Procurar a 5ª frase completa.
4) Postá-la no blog.
5) Passar o desafio a 5 bloggers.
6) É proibido ir buscar o melhor livro e postar a frase que acharmos mais interessante.
7) Divulgar o nome e o autor do Livro.


Ora aqui está:

Título: OS MAIAS

Autor: Eça de Queirós

A frase: " E arregaçou-as realmente, mostrando a ceroula, num gesto brusco e de delírio”.

Passo o desafio a:

Maria Faia
Aramis
Maria
São Banza
Fernanda e Poemas
Avelaneiraflorida

Que me lembre, este foi o último livro que eu e minha mulher lemos a meias, durante muitas noites.

Um grande abraço a todos.

José Gonçalves





PIPES OF PEACE

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

TARRAFAL Vai ser longo o artigo mas tem de ser recordado!


COLÓNIA PENAL DO TARRAFAL 29 de Outubro de 1936


As autoridades portuguesas colocam em funcionamento o campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, com a chegada dos primeiros 152 presos políticos.

O modelo da chamada ‘Colónia Penal do Tarrafal’, em Cabo Verde, onde a 29 de Outubro de 1936, chegaram os primeiros 152 presos dos 340 que por lá passaram, era igual aos dos campos de concentração nazis, onde Hitler promoveu o holocausto. Um dos desterrados, Edmundo Pedro, que integrava o grupo ao lado de seu pai, lembrou a precariedade das instalações, em tendas de lona, a incomunicabilidade com o exterior, as barreiras de arame farpado e as próprias características do local.
O Campo do Tarrafal serviu para presos políticos desterrados de Outubro de 1936 a Janeiro de 1954

“Era a zona mais inóspita, seca e quente, da ilha de Santiago, em Cabo Verde”, salienta Edmundo Pedro que lá passou nove anos e escapou à morte por pouco. Foi recambiado para Lisboa na Primavera de 1945, para responder em tribunal, e chegou tuberculoso ao continente, mas conseguiu melhorar nos três meses que passou na cadeia do Aljube à espera de julgamento.
Sofreram torturas mais de três centenas de resistentes à ditadura fascista, nomeadamente comunistas e anarco-sindicalistas. Edmundo Pedro sempre lutou pela liberdade, arriscando a própria vida e sem esmorecimento, apesar de tudo o que sofreu no ‘campo da morte lenta’. Por sua vontade, o Tarrafal era uma lição de história para todos os portugueses.

MÉDICO PARA "PASSAR ÓBITOS"

O número de 32 presos mortos no Campo do Tarrafal, entre 1936 e 1948, desmente a marca ‘paternalista’ dada muitas vezes à ditadura de Salazar. Com a escolha do local de desterro, na pior zona da ilha de Santiago, tentou-se de facto levar à morte os mais aguerridos resistentes ao regime.
Directores do campo como Manuel dos Reis, João Silva e Henrique Seixas admitiam que “quem vem para o Tarrafal vem para morrer” e ao médico Esmeraldo Pais Prata é atribuída a frase “não estou aqui para curar doentes, mas para passar certidões de óbito.”
A historiografia sobre o Tarrafal é, porém, limitada, sendo a maioria dos trabalhos ligada a autores que parecem querer fazer sobretudo a exaltação do papel do PCP na resistência à ditadura.


A FUGA


Edmundo Pedro, dirigente histórico do PS, nasceu em Samouco, concelho de Alcochete, a 8 de Novembro de 1918. Foi operário no Arsenal até ser preso no Tarrafal, correspondente de línguas estrangeiras, deputado do PS durante 11 anos e administrador de empresas

Em Memórias - Um Combate pela Liberdade, Edmundo Pedro descreve a mais rocambolesca tentativa de fuga do Tarrafal, esse "campo da morte lenta" aberto pelo regime fascista. À margem da organização prisional do PCP, Edmundo Pedro, Gabriel Pedro (seu pai), Augusto Macedo, Tomás Rato e Nascimento Gomes planearam uma fuga quase ignorada na bibliografia tarrafalista.

Como surgiu a ideia de fugir da ilha?


A fuga foi decidida à revelia da organização prisional do PCP (a que pertencia), porque a estrutura reservava o direito de escolher quem devia fugir. Durante muitos anos, acatei a orientação, mas, às tantas, convenci-me que eles não fugiam nem deixavam fugir. E a disciplina partidária era um obstáculo mais forte que o arame farpado.

Qual era o plano?


Aproveitava-se haver um barco de cabotagem que passava pela ilha de Santiago, em Cabo Verde, uma vez por mês. Tínhamos quatro horas até darem pela saída para chegar ao barco, tomar conta dele e rumar em direcção ao continente africano. Só por grande azar é que não conseguimos. Falhou por uma coisa estúpida.

Mas como iludiram a vigilância?

O controlo da saída era feito num quadro onde o guarda punha um traço a giz por cada preso que saía. Do campo só saiam os "rachados" [arrependidos], que andavam à vontade cá fora e regressavam à noite; ou os que tinham um pretexto. Eu e o Macedo saímos com uma bateria para ir carregar na central eléctrica; o Rato e o Nascimento para ir rachar lenha na messe dos guardas. Decidíramos sair uns minutos antes da rendição, porque o guarda que entrava já não sabia se o traço correspondia a um "rachado" ou a um preso que tinha acabado de sair. O mais difícil era o meu pai, porque não tinha pretexto. A fuga só prosseguiria se conseguisse deixar o campo sem ser notado. Ele andava a descarregar a água - transportada desde a fonte até ao campo em quatro bidões de 200 litros -, foi empurrando a vagoneta até à porta e conseguiu passar encostado aos bidões do lado contrário ao guarda - e nós a ver.

Que falhou?

O Rato e o Nascimento foram passar junto do sítio onde estavam os "rachados", em vez de fazerem o contrário, que era dar a volta ao campo e dirigir-se ao monte, situado a quatro quilómetros, onde nos encontraríamos todos. Os "rachados" denunciaram-nos. Nós os três, que já estávamos no alto do monte, a certa altura começámos a ver os capacetes brancos dos guardas a correr atrás de duas pessoas. Eles encaminharam-se para o centro da ilha, procurando desviar as atenções. O meu pai, que passara pela praia, tinha visto um barco de pescadores abandonado. Corremos nessa direcção e, quando chegámos à praia, estavam lá dois barcos e três cabo-verdianos. Ameaçámo-los com uma pistola de imitação que eu tinha feito e um raspador [lima afiada] que parecia um punhal. Tentámos comprar o barco com o dinheiro que conseguíramos arranjar, mas eles não quiseram, pois viram que éramos prisioneiros fugidos. Tomámos o barco à força, levando os remos do outro também, com a ideia de chegarmos ao porto, a cinco quilómetros, e tomar conta do palhabote, um barco a vela e a motor.

Os pescadores ficaram quietos?

Assim que se viram livres de nós, correram até ao campo para nos denunciar e terão encontrado os guardas que perseguíam os camaradas. Então, eles deixaram os outros fugitivos (um só foi apanhado quatro dias depois e o outro dez dias após a fuga) e correram para a praia. Quando lá chegaram, gritaram, dispararam vários tiros, mas nós continuámos a remar. Estávamos convencidos que não havia outro barco capaz de nos perseguir, mas, infelizmente, havia. O barco que nos perseguía era cada vez maior e o meu pai estava completamente esgotado. Até que não tivemos outra solução que não fosse ir para terra. Só que ali não havia praia, o barco foi contra as rochas e desfez-se em mil bocados. Caminhámos ao longo de um carreiro que havia no planalto e, a certa altura, eles pararam, mas eu não aceitava render-me. Andei mais uns 400 metros até encontrar um gruta baixa e profunda. Vim ter com eles para lhes propor que nos escondêssemos até à noite.

O esconderijo não seria seguro?

Tínhamos fugido às dez da manhã, a contagem era feita às duas da tarde e, naquele momento, devia ser meio-dia. Ficámos à espera. Passaram as três, as quatro, as cinco horas e já considerávamos que, chegada a noite, podíamos sair dali. Ao fim da tarde, começámos a ouvir um barulho ao fundo do vale e, às tantas, apareceu um exército de maltrapilhos, porque tinham posto a nossa cabeça a prémio, com uns 30 ou 40 cabo-verdianos, com pedras e paus, mais dois soldados indígenas com as espingardas Mauser e os dois guardas prisionais. O primeiro a espreitar foi um miúdo com uns dez anos. Chamou o dono do barco que tínhamos destruído, um gigante, que olhou para dentro da gruta e gritou: "cata gajo!"

Que ninguém esqueça o tarrafal e os que por lá passaram.

Fotos e texto tirados da Net (Portugal Web)

domingo, 28 de outubro de 2007

BOM DIA E BOM DOMINGO



Que este domingo seja um dia maravilhoso em paz, amor e amizade!

ATRASE O SEU RELÓGIO 1 HORA A PARTIR DA MEIA NOITE DE SÁBADO

Clique em cima do relógio

"Não sei se repararam mas o dia de ontem foi o mais comprido do ano, com 25 horas"!!!

EU APENAS EU


Hoje escrevo para mim

Não procuro as palmas

Não quero um palco meu

Nem agradecimentos

Nem parabéns

Sou eu apenas eu.

Hoje escrevo para mim

Sinto as palavras só minhas

Saem do peito como lanças

No silêncio do escritório

Em perfeita sintonia

Entre o espírito e a alma

Hoje escrevo para mim

Sem gritos nem pressas

Sem lamurias

Nem queixumes

Indiferente ao que se passa

Para lá daquela porta

Hoje escrevo para mim

Quero ser eu a reler

As palavras que ficaram

Embrulhadas num soluço

E amanhã saberei

Se escrevi ou foi apenas sonho.

J.G.