terça-feira, 14 de agosto de 2007

ESTAMOS ENCERRADOS PARA FÉRIAS




ESTE BLOG ENCONTRA-SE TEMPORARIAMENTE ENCERRADO, DESCONHECENDO O SEU AUTOR SE REABRIRÁ.
A VONTADE QUE LEVAMOS NESTE MOMENTO NÃO PERMITE QUALQUER PREVISÃO SOBRE A DATA DO SEU REGRESSO.
POR ISSO, PARA BEM DOS VISITANTES, DURANTE ESTE RESTO DE AGOSTO E PRINCÍPIOS DE SETEMBRO VAMOS FAZER-NOS À VIDA PARA OUTRAS PARAGENS.
QUERO QUE SAIBAM, QUE NOS SENTIMOS HONRADOS COM AS VISITAS QUE NOS FORAM FEITAS AO LONGO DESTES CURTOS MESES.
APÓS O REGRESSO DE FÉRIAS, DECIDIREMOS SOBRE O SEU FUTURO.
BEIJINHOS A TODOS.


segunda-feira, 13 de agosto de 2007

AO MEU AMIGO COMPUTADOR

AO MEU AMIGO COMPUTADOR

Quero hoje prestar a minha homenagem ao meu computador. Ele tem sido companheiro, ouvinte, dedicado, silencioso, solidário... sei lá.

Quando fomos apresentados convenci-me que a nossa relação seria difícil, que dada a diferença de idades não iríamos encontrar o equilíbrio necessário a uma boa relação.

Aos poucos fomos encontrando uma identidade tal que hoje não passamos um sem o outro.

Confesso que estou admirado, logo eu que nunca fui “galo de capoeira”, dedico horas e horas a fio do meu tempo para estar contigo.

-“ Vais dar cabo dos olhos” dizem-me uns..

-“ Que desperdício de tempo” dizem-me outros...

Pois... talvez, mas a verdade é que já não vivemos um sem o outro. É como se voltasse a ser um adolescente apaixonado do tipo que não quer ver, nem ouvir nada do que lhe dizem, e eu que já passei por isto uma vez. Continuo um eterno enamorado...

Fico a pensar no que o povo diz, que o cão é o melhor amigo do homem. Será? Não serás tu o meu melhor amigo? Não estás sempre lá nas horas boas e más?

Repara, tu não questionas, não renuncias, não reclamas, não me evitas, estás sempre disposto a ajudar e forneces-me tudo o que quero saber e não preciso de te comprar ração...

Sempre que te procuro, a alma e o espírito acalmam, matas-me a curiosidade. E como sou curioso...

O mais problemático, é que minha mulher até já sente ciúmes de ti. Roubas-lhe muito do tempo que lhe deveria dedicar. E tem razão mas não é nada que não se possa conciliar.

Encontraremos a melhor forma de nos encontrar-mos e de passar-mos o tempo da melhor maneira possível sem que isso interfira com tudo o resto.

Meu amigo, as amizades, quando são fortes, resistem a tudo, até a algumas distâncias.

Tem paciência, fica-te aqui a minha homenagem, e vais ver que todos juntos havemos de continuar a ser felizes.

José Gonçalves


domingo, 12 de agosto de 2007

“MIGUEL TORGA”


“Não sou nem intelectual nem médico, mas tenho algo em comum com Miguel Torga, a forte ligação à Terra. Aqui lhe deixo a minha homenagem no dia em que faria 100 anos se estivesse vivo. Lembrá-lo é um dever do povo, nosso”
José Gonçalves

Nasceu em S. Martinho de Anta, concelho de Sabrosa, em 12.8.1907 e faleceu em 17.1 1995, sendo sepultado na aldeia natal. De seu nome completo Adolfo Correia da Rocha, adoptou o pseudónimo de Miguel Torga porque "eu sou quem sou. Torga é uma planta transmontana, urze campestre, cor de vinho, com as raízes muito agarradas e duras, metidas entre as rochas. Assim como eu sou duro e tenho raízes em rochas duras, rígidas, Miguel Torga é um nome ibérico, característico da nossa península"... Feita a 4ª classe com distinção, o pai disse-lhe: "tens de escolher ... aqui não te quero. Por isso resolve: ou o seminário de Lamego ou Brasil". Daí a pouco lá ia o rapaz rumo a Lamego: "ía na frente, de fato preto, montado, a segurar o baú de roupa que levava diante de mim. Meu pai e minha mãe vinham atrás, a pé, ele com os ferros da cama às costas e ela de colchão e cobertores à cabeça", contará mais tarde em A Criação do Mundo. Aí esteve um ano. Chegou a ajudar à missa, durante as férias, com grande enlevo para a mãe. Mas a decisão era outra. O Brasil era a única saída. Partiu em 1920. "Ficou em casa de uma tia que lhe impôs como obrigação, em todos os dias carregar o moinho, mungir as vacas que davam leite para a casa, tratar dos porcos, prender as crias das vacas, curar bicheiros e procurar pelos matagais as porcas e as rezes paridas". Um ano depois estava de regresso a Portugal. O tio prontificara-se a fazer dele um médico, custeando-lhe os estudos, em Coimbra. Aos 24 anos estava formado. Especializou-se em Otorrinolaringologia. Começou por exercer clínica geral na sua aldeia. A experiência foi negativa. Instalou-se em Leiria, de que gostava. Mas por causa das tipografias, optou por voltar a Coimbra. Depois de uma vida amorosa repartida, pelos sítios, por onde passava, acabou por casar pelo civil com a Prof. universitária (de Coimbra), a belga André Cabrée: "vou tentar ser bom marido, cumpridor. Mas quero que saibas, enquanto é tempo, que em todas as circunstâncias te troco por um verso"

(confessará em A Criação do Mundo, V). Entre a passagem pelo seminário e a ida para o Brasil ainda foi caixeiro num estabelecimento comercial, no Porto. Foi sempre um homem, socialmente difícil. Pouco comunicativo, falando com mais convicção do que razão. "Uma das facetas menos atraentes do carácter de M.T. é a sua forretice. Chega a comprar livros com exemplares dos seus. De Leiria a Coimbra viajava sempre em 3ª classe. Foi ao estrangeiro, por diversas vezes, percorrendo boa parte da Europa, aproveitando sempre boleia de dois amigos. Quase não oferece livros a ninguém, recusa dedicatórias e autógrafos, nunca confiou o seus livros a nenhuma editora, preferindo sempre "edições do autor", com pequena tiragem e no papel mais barato possível." (António Freire, in Lendo M.T.). Na gráfica onde fazia os seus livros, ao seu amigo Pe. Valentim que lhe ajudava nas tarefas tipográficas fazia "um preço cristão". Na clínica usava sempre o mesmo ritual: uma bata branca. Só comprou televisão após o 25 de Abril para ouvir as notícias. Não tinha telefone em casa para não lhe interromperem o trabalho (José C. Vasconcelos, in JL, 6-12 de Junho de 1989). O material que "manda para a tipografia leva vários remendos colados uns sobre os outros. Chegam a ter umas sete e oito colagens. Por causa de uma vírgula é capaz de passar uma noite sem dormir". Dedicava-se à caça, algumas vezes, nos montes da sua região. Quando ali trabalhava, chegava da caça e dava consulta com a roupa com sangue que trazia dos montes. Era a mãe que lhe chamava a atenção. Com a entrada para a Universidade, em 1928, deu início à sua obra, publicando dois livros: Ansiedade (que logo esgotou). Somente voltou a ser mencionado na Antologia Poética (1981). Rampa (1930) teve um destino idêntico. Os seus adversários da época chegavam a acrescentar-lhe um T, antes do título. Ambos esses livros saíram com nome próprio. Em 1936 aparece, pela primeira vez com o seu pseudónimo em O outro livro de Job, de que faz apenas edições de 300 exemplares. Desde aí até fins de 1994 escreveu uma obra vasta e marcante, em poesia, prosa, teatro. Alguns dos seus livros, como Bichos tiveram já mais de vinte edições. Deixou 16 volumes dos seus Diários. Muitas obras suas foram traduzidos nas principais línguas de todo o mundo, incluindo em chinês. Foi muitas vezes apontado como sério candidato ao Prémio Nobel da Literatura. Ganhou o prémio Luís de Camões, no valor de 10 mil contos (1989). Chegou a ser preso pela PIDE. Algumas vezes teve vontade de sair do país: "Mas abandonar a Pátria com um saco às costas? Para poder partir teria de meter no bornal o Marão, o Douro, o Mondego, a luz de Coimbra, a biblioteca e as vogais da língua. Sou um prisioneiro irremediável numa penitenciária de valores tão entranhados na minha fisiologia que, longe deles, seria um cadáver a respirar". Queriam fazer dele um socialista, quando se deu o 25 de Abril de 1974. Nunca se filiou em partido algum: o meu partido é o mapa de Portugal. Sobre a descolonização escreveria: fomos descobrir o mundo em caravelas e regressámos dele em traineiras. A fanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim sem a grandeza de uma grande aventura. Metade de Portugal a ser o remorso da outra metade. Em 1996 foi fundado o Círculo Cultural Miguel Torga, com sede em S. Martinho de Anta.


A Terra

Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.

Na seara madura de amanhã
Sem fronteiras nem dono,
Há de existir a praga da milhã,
A volúpia do sono
Da papoula vermelha e temporã,
E o alegre abandono
De uma cigarra vã.

Mas das asas que agite,
O poema que cante
Será graça e limite
Do pendão que levante
A fé que a tua força ressuscite!

Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem
É um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.

Terra, minha aliada
Na criação!
Seja fecunda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração!

E por isso te rasgo de magia
E te lanço nos braços a colheita
Que hás de parir depois...
Poesia desfeita,
Fruto maduro de nós dois.

Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!

A charrua das leivas não concebe
Uma bolota que não dê carvalhos;
A minha, planta orvalhos...
Água que a manhã bebe
No pudor dos atalhos.

Terra, minha canção!
Ode de pólo a pólo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!